Para o público brasileiro, o ator uruguaio César Troncoso era quase um anônimo. Sintoma disso é o fato de por vezes grafarem seu sobrenome com “a”, em confusão com o balneário na Bahia. Mas a incidência do erro deve mudar em 2013. Em “Flor do Caribe”, novela das 18h da TV Globo, Troncoso ganha destaque como o mafioso Dom Rafael. Nos próximos meses, também aparece como o Pablo no filme “Faroeste caboclo”, baseado da música da Legião Urbana, e como par de Denise Fraga em “Hoje”, de Tata Amaral. Gravou ainda participação em "O tempo e o vento", de Jayme Monjardim.
“Para mim, o que acontece no Brasil é maravilhoso já como está. Não é tão fácil trabalhar noutro país que não o seu”, afirma ele em entrevista ao G1. O encontro aconteceu durante as gravações na Argentina de outra produção nacional, “A oeste do fim do mundo”. “A lógica é que você vai trabalhar sempre no seu país, então tudo o que acontece fora é maravilhoso. Não sei se as pessoas vão me conhecer no Brasil, não me importa. A esta altura da minha vida, quero trabalhar, fazer as coisas de que gosto. Não preciso de muito mais.”
Nas filmagens de “A oeste do fim do mundo”, Troncoso evitava abordar mais detidamente sua participação em “Flor do Caribe”. Ainda assim, entre uma tomada e outra, o diretor Paulo Nascimento chegou a recomendar, em tom de brincadeira: “César, como tu quer fazer novela falando desse jeito?! No Brasil, a gente fala frango!” Troncoso tinha acabado de pronunciar algo como “frángo”. Em “Flor do Caribe”, seu personagem é um vilão da Guatemala, o que justifica o sotaque e minimiza o estranhamento.
O ator uruguaio César Troncoso em cena do filme
'O banheiro do Papa' (Foto: Divulgação)
Até aqui, seu trabalho mais conhecido foi como o protagonista de “O banheiro do Papa” (2007), do uruguaio radicado no Brasil César Charlone (diretor de fotografia de “Cidade de Deus”). “No Brasil, ‘O banheiro do Papa’ foi um pequeno sucesso. Todo mundo que vem falar comigo tem referência dele”, observa Troncoso. “Depois, o filme começou a ganhar prêmios internacionais, teve a estreia no Festival de Cannes...”, completa.
César Troncoso nasceu em 5 de abril de 1963, em Montevidéu. Estreou no cinema apenas quando já tinha 40 anos de idade, em “El viaje hacia el mar” (2003). A demora ele credita à modéstia da produção do país. “Na verdade, o que acontece também é que nós, no Uruguai, não tínhamos tanto cinema. Os filmes começaram a ter mais continuidade recentemente.” Troncoso esteve em “Em teu nome” (2009), de Paulo Nascimento, e “Cabeça a prêmio” (2009), de Marco Riccax.
Troncoso lembra-se de que começou a carreira relativamente tarde. Estava no segundo ano da faculdade de medicina quando se deu conta “de que não tinha nada o que fazer ali”. “Aí, eu estava com 25 anos e aconteceu que me divorciei. Passei a ter um tempo que não tinha – tempo livre. Comecei a tomar aulas de teatro num grupo do Uruguai, o Teatro Uno. Mas já era espectador da Cinemateca e de teatro, isso sim.”
Troncoso e Fabrício Boliveira (João do Santo
Cristo) em 'Faroeste caboclo' (Foto: Divulgação)
‘Peruano que vivia na Bolívia’
César Troncoso conta que estava no set de filmagens em São Paulo, rodando “Hoje”, quando recebeu um telefonema. Era um convite para um novo trabalho no país. “Eu comentei: ‘Não acredito! Me ligaram de novo para fazer outro filme no Brasil’. Quando me perguntaram qual, eu respondi: ‘Não sei, chama-se ‘Faroeste caboclo’...” A notícia entusiasmou os colegas, e então ele começou a perceber o potencial do projeto.
“Todo mundo tem conhecimento acerca desta canção, é uma loucura. Eu tenho agora, porque comprei. É linda, muito linda”, confessa. “Já conhecia Legião Urbana, sim. Naqueles anos [1980], Legião Urbana, Paralamas do Sucesso, Titãs, Barão Vermelho, todos esses grupos eram conhecidos no Uruguai. Mas nunca fui muito roqueiro. Conhecia já Legião, mas não tinha prestado muita atenção na canção.” Em “Faroeste caboclo”, seu papel é o do vilão Pablo. Os protagonistas são vividos Ísis Valverde (Maria Lúcia), Fabrício Boliveira (João do Santo Cristo) e Felipe Abib (Jeremias), nos papéis centrais. Dirigido por René Sampaio, o filme tem previsão de estrear em 30 de maio, e Troncoso afirma prever bom público.
Sobre os resultados em bilheterias, ele confronta o mercado cinematográfico de seu país e o do Brasil. “Para que um filme vire sucesso no Uruguai, ele pode ter 60 mil espectadores. E isso é um fracasso no Brasil.” Em seguida, ele expande a comparação a outros campos. “O Uruguai sempre foi o país muito mais avançado que a região. Na década de 1920, tivemos um presidente que deu voto para a mulher, aprovou o divórcio e separou a igreja do estado. O estado virou laico e bastante progressivo naquele tempo.”
Quando o enfrentamento chega ao futebol, em especial à final da Copa de 1950, Troncoso adota um ponto de vista distante do habitual. “Ninguém esperava aquilo. Nem os uruguaios. Não sei até que ponto, para o Uruguai, foi um fator de freio no desenvolvimento. Porque foi um feito tão grande...”, comenta. “Nos anos 1950, nós éramos conhecidos como a Suíça da América. Depois disso, deixamos de ser a Suíça de algum lugar e já não conseguimos sucessos esportivos.”
Troncoso e Fernanda Moro nas filmagens de 'A oeste
do fim do mundo', na Argentina (Foto: Cauê Muraro/G1)
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